Este trabalho analisa a experiência universitária que favoreceu a evasão e os caminhos percorridos por jovens nos cursos de graduação da Universidade de São Paulo (USP), oferecidos na cidade de São Paulo, durante o período 2002-2016. Trata-se de uma investigação longitudinal com análises quantitativas da evasão e entrevistas realizadas em profundidade com uma amostra de vinte e dois egressos, concludentes e evadidos, da USP. A partir das entrevistas, delineamos quatro perfis de trajetórias, segundo o tempo de permanência e a situação de conclusão do curso. Concluímos, diante dos trajetos e experiências apontadas, que a evasão é afetada por diferenças de vínculos estabelecidos com a universidade, bem como pelas condições e estilos de vida juvenil. As determinações de classe não explicitam as ocorrências de evasão na USP.
Palavras chave: experiência educativa, deserção, estudantes, ensino universitário, Brasil.
Este trabajo analiza la experiencia universitaria que favoreció la evasión, y los caminos recorridos por jóvenes en los cursos de posgrado de la Universidade de São Paulo (USP), ofrecidos en la ciudad de São Paulo, durante el periodo 2002-2016. Se trata de una investigación longitudinal con análisis cuantitativas de la evasión y entrevistas realizadas en profundidad con una amuestra de veinte y dos desertores y egresados de la USP. A partir de las entrevistas, delineamos cuatro perfiles de trayectorias, segundo el tempo de permanencia y la situación de conclusión del curso. Concluimos, ante los trayectos y experiencias señaladas, que la evasión es afectada por diferencias de vínculos establecidos con la universidad, así como por las condiciones y estilos de vida juvenil. Las determinaciones de clase no explicitan las incidencias de evasión en la USP.
Palabras clave: experiencia educativa, deserción, estudiantes, enseñanza universitaria, Brasil.
This paper analyzes the university experience that favored dropout and the paths taken by young people in graduate courses at Universidade de São Paulo (USP), offered in the city of São Paulo during the period 2002-2016. This is a longitudinal research with quantitative analysis of dropout and interviews conducted in depth with a sample of twenty-two USP deserting students and graduates. From the interviews, the authors delineate four trajectory profiles, according to time spent and course completion status. They conclude that the trajectories and experiences pointed out that the dropout rate depends on differences in the links established with the university, as well as by the conditions and lifestyles of the young people. In contrast, class determinations do not make explicit the incidences of dropout at USP.
Keywords: educational experience, dropout, students, university education, Brazil.
Este artigo analisa a experiência universitária que favoreceu a evasão de alunos dos cursos de graduação da Universidade de São Paulo (USP), oferecidos na cidade de São Paulo, no período de 2002 a 2016. Discorre ainda sobre os caminhos percorridos pelos jovens estudantes universitários da USP mediante a iminência da evasão. Trata-se de uma pesquisa longitudinal (Giraldi e Sigolo, 2016), com análise quantitativa e qualitativa do público da USP que foi averiguado.
A pesquisa realizada ateve-se um levantamento macro da recorrência da evasão em todos os cursos de graduação da USP oferecidos na cidade de São Paulo no período de 2002 a 2016. Foram selecionadas quatro carreiras e sete cursos para definição de índices finais exatos e análise estatística das formas de comportamento da evasão na instituição. Após a análise de 13 categorias explicativas da evasão (curso, ano de ingresso, turno, estado civil, idade, momento da evasão, motivo da evasão, situação de encerramento, escola de procedência, classificação no vestibular, existência de titulação anterior ao ingresso, sexo e perfil socioeconômico e cultural),1 foi possível selecionar uma amostra de vinte e dois egressos (concluintes e não-concluintes) para aprofundar a discussão do tema na universidade.2
Neste artigo, de maneira específica, apresentaremos os resultados das análises das entrevistas com egressos (concluintes e não-concluintes) após percorrer as etapas quantitativas mencionadas. A partir dessa proposição metodológica, delineamos contornos e dinâmicas vigentes do comportamento da evasão na USP, que realçam questões recorrentes da oferta de cursos no ensino superior brasileiro e extrapolam aspectos estritamente acadêmico-universitários. Os fatores observados nessa investigação são retratados em literatura recentemente produzida na área (Carvalho, 2017; Digiampietri et al., 2016; Júnior e Real, 2020; Santos et al., 2017) bem como, vem sendo densamente explorados em estudos que abordam as etapas de transição para a vida adulta e questões relativas à concomitância estudo e trabalho para a categoria estudantil e etária jovem (Abramo, 1997; Pimenta, 2007).
Nesse enquadramento, destaca-se que o artigo se estrutura pela reconstituição da literatura produzida na área, pela descrição dos procedimentos metodológicos adotados, pela divulgação e discussão dos resultados, pela indicação de sugestões de encaminhamentos administrativos mediante conclusões realizadas. Passaremos subsequentemente à explanação da configuração e desenvolvimento do tema da evasão no campo do ensino superior brasileiro.
O estudo da evasão no campo do ensino superior se justifica frente à necessidade de a universidade bem qualificar seus estudantes, garantindo um bom número em termos de seus diplomados. Contudo, verifica-se um dilema no cenário de oferta da Educação Superior brasileira: estimula-se o ingresso ao passo que o sistema político educacional se mostra deficiente para deter os estudantes (Júnior e Real, 2020; Nunes, 2013).
Segundo dados do Censo da Educação Superior no Brasil, no ano de 2017 a soma dos concluintes esteve estagnada em 1 199 769, representando 14.5% das correspondentes matrículas de graduação; percentual idêntico ao obtido em 2016. Por sua vez, os índices de conclusão observaram um incremento de 2.6% em relação a 2016 e de 4.3% em relação a 2015 (Brasil, 2018).
Frente a essa dificuldade de se observar melhores resultados em termos percentuais na relação entre ingressantes e concluintes, o tema da evasão ganha destaque. A questão parece-se tratar de um problema complexo que envolve os sujeitos e o sistema educacional, tendo consequências individuais, sociais, acadêmicas e econômicas (Santos et al., 2017).
Nessa perspectiva, pesquisas recentes debruçam-se sobre esse objeto de análise e demonstram a importância de se aprofundar o estudo das causas, dos motivos e dos impactos provenientes do abandono pelos estudantes dos sistemas de ensino (Júnior e Real, 2020; Carvalho, 2017; Santos et al., 2017; Digiampietri et al., 2016; Costa, 2016).
Ressalta-se que uma importante contribuição para o estudo da evasão no ensino superior brasileiro se deu quando o Ministério da Educação (MEC), realizou um macro-estudo que definiu uma fórmula de cálculo e conceituou a evasão como sendo “a saída definitiva do aluno de seu curso de origem sem concluí-lo” (MEC et al., 1996). O estudo consolidou uma metodologia própria a partir de um esforço integrado de grande parcela das instituições universitárias brasileiras e definiu um conceito de evasão.
A partir desse estudo, a Comissão Especial para o Estudo da Evasão nas Universidades Brasileiras instituída pelo MEC et al. (1996), quantificou os índices de evasão, mas não avançou em um conhecimento aprofundado desse fenômeno, a partir de uma proposição de análise com viés mais qualitativo. Com relação a isso, esclarecem que:
Outro aspecto destacado deste estudo consiste na observação de que para análise das recorrências da evasão devem ser respeitadas as especificidades institucionais e as regras próprias de cada universidade. Frente a isso, destaca-se a necessidade de acompanhamento para o enfrentamento institucional desse fenômeno.
Na USP, são averiguadas pesquisas diversas sobre a evasão a partir de 1990 (Bueno, 1993; Costa, 2016; Digiampietri et al., 2016; Fiorani, 2015; Lehman, 2014; Souza, 2012; Oliveira e Souza, 2004). Tais trabalhos apresentam reflexões sistematizadas sobre o tema e pesquisas empíricas com recortes diferenciados de análise. Assim, verificam-se estudos de cursos, faculdades isoladas e dados globais representativos de toda a universidade. Cada investigação utilizou uma abordagem específica e adotou metodologia própria para o acompanhamento da trajetória escolar do evadido, conforme objetivo analítico proposto.
Nesse estudo, retomamos as análises realizadas por Oliveira e Souza, (2004) por se tratar de uma pesquisa com índices globais acerca da evasão institucional na USP, no período de 1998 a 2002. Sendo assim, a pedido da Pró-Reitoria de Graduação, foi finalizada por Oliveira e Souza, (2004) uma pesquisa que quantificou os índices de evasão em todos os cursos de graduação e caracterizou três perfis de trajetórias, assim delineadas: 1) concluintes no tempo ideal; 2) evadidos e 3) aqueles que permanecem mais tempo que o ideal na universidade. A definição destes perfis se deu em razão do interesse em observar as diferenças de trajetórias escolares realizadas por grupos distintos de estudantes que evadem do curso, que concluem no tempo mínimo e por aqueles que permanecem mais que o tempo mínimo em suas graduações de origem.
As análises de Oliveira e Souza, (2004) se deram dentro de um recorte de tempo mínimo para a efetivação do curso superior. Desse modo, os três perfis de trajetórias delineados constituíram-se em tipos-ideais3 das experiências escolares observadas na universidade e evidenciaram os seguintes aspectos da evasão institucional: 1) a existência de evasão por motivo de trabalho; 2) a ausência de informação a respeito do curso; 3) uma transição acidentada entre o ensino médio e o ensino superior —em termos de ritmo e autonomia de estudos; 4) a incompatibilidade das exigências extracurriculares com a condição de ser um estudante-trabalhador; 5) a ausência de pré-requisitos e reprovações que geram descontinuidades no curso e 6) o distanciamento da formação obtida e aquela demandada pelo mercado como fator de desmotivação.
Mediante tais resultados, a investigação aqui apresentada verificou um período de tempo mais recente e estendido da evasão na USP (2002-2016). Dessa maneira, observando as situações de conclusão após o tempo máximo de integralização curricular, esse estudo atualizou os índices institucionais, verificou formas de manifestação da evasão nos cursos e apresentou os motivos elencados bem como, os caminhos percorridos pelos jovens-egressos, concluintes e não concluintes, dos cursos dessa universidade, com a efetivação de entrevistas em profundidade.
Após análise de regressão logística de treze fatores intervenientes da evasão na USP, foi estabelecido como sendo fatores explicativos da evasão na instituição os aspectos relativos a: idade, ser estudante do curso noturno, possuir titulação anterior ao ingresso, o sexo e a procedência escolar do estudante no ensino médio. Frente a esses resultados foram contemplados representantes dessas categorias para serem entrevistados, conforme especificação dos procedimentos metodológicos adotados.
Para realizar as entrevistas, foram selecionados 22 ex-alunos, concluintes e não concluintes, de sete cursos de alta evasão da USP, oferecidos na cidade de São Paulo, no período de 2002 a 2016. Os cursos selecionados foram: Licenciatura em Matemática Diurno e Noturno, Geofísica, Bacharelado em Geografia Diurno e Noturno, Biblioteconomia Diurno e Noturno.
Foram realizadas 12 entrevistas com ex-alunos evadidos e 10 entrevistas com ex-alunos concluintes. Do universo de 22 entrevistados, selecionamos um entrevistado concluinte e um não concluinte de cada curso, um do diurno e outro do noturno, quando era o caso; diferentes momentos de encerramento da graduação; ex-alunos de procedências escolares diversas; de diferentes sexos e idade de até 29 anos, no momento de ingresso. Com relação aos diferentes momentos de encerramento do curso, temos: concluintes que encerraram a graduação no tempo ideal de integralização curricular e outros que concluíram no tempo máximo. Além disso, verificamos casos de evasão nos dois primeiros anos após o ingresso e com mais de dois anos de permanência.
O conjunto dos depoentes possuía características socioeconômicas e culturais diversas bem como, foi indiscriminada a classificação obtida por cada um(a) no exame vestibular. Isto se colocou, devido a estes aspectos não interferirem nas chances de conclusão do curso pelos alunos investigados. Por sua vez, as demais características (etárias, de sexo, procedência do ensino médio público ou privado, ser estudante do turno diurno ou noturno e o momento de encerramento do curso na USP, com ou sem conclusão) foram observadas na seleção dos depoentes.
No tocante à idade de até 29 anos, para além da diversidade etária existente no banco de dados, foi priorizada a análise da categoria etária jovem.4 Isto se deu pelo fato de a discrepância entre as faixas de idade serem bastante acentuadas no banco de dados e esta circunstância inviabilizar parâmetros de comparação com o público majoritário do ensino superior brasileiro. As políticas públicas de cobertura desse nível de ensino em âmbito nacional são comumente voltadas ao perfil etário considerado jovem.5
Frente a isso, a única questão não contemplada nos aspectos determinantes da evasão na USP, segundo análises de regressão logística, foi a condição de ter titulação anterior ao ingresso. Esse dado atinha-se a um público restrito e com idade bem superior à da maioria da população que busca a formação superior nessa universidade e nas demais instituições de ensino superior brasileiras (Brasil, 2018).
Nessa conjuntura, o perfil dos entrevistados procurou atender a uma miríade de situações que contemplaram a diversidade de fatores que interferem na evasão da USP, conforme destacado nas análises estatísticas realizadas. Mediante os aspectos delineados, procurou-se averiguar desafios comuns relativos à condição de vida jovem que acometem esses estudantes quando realizam o curso superior. Tal aspecto além de apontado nos dados quantitativos também é realçado em pesquisas qualitativas da área nessa e em outras universidades (Bueno, 1993; Costa, 2016; Lehman, 2014; Santos et al., 2017).
Entendemos a condição de vida jovem6 como específica para diferentes indivíduos e, sendo assim, não podemos afirmar que exista uma unicidade de sentidos nas experiências vividas para distintos perfis de estudantes. A literatura pertinente ao tema considera a categoria etária jovem como possuidora de nuances que a configuram no plural, dada a sua complexidade (Groppo, 2000). Assim, é enunciada tal compreensão:
Partindo dessa formulação e tomando algumas especificidades, aproximações e distanciamentos que caracterizam a categoria etária jovem aqui analisada, delineamos quatro perfis de trajetórias, segundo suas respectivas situações de encerramento do curso e tempo de permanência na USP. A pesquisa realizada deixou entrever diferentes percursos e perspectivas traçadas pelos egressos investigados. Assim, foram observados casos de ex-alunos de procedências sociais diversas com diferentes destinos dentro e fora da instituição, bem como a forma como esses estudantes se relacionavam com a universidade. Foram observados aspectos que acreditamos possibilitar uma melhor compreensão das condições de vida jovem em seu processo de passagem para a vida adulta (Pimenta, 2007). Dessa forma, verificamos: as referências simbólicas de vida acadêmica e extra-acadêmica, as formas de apropriação da universidade, a relação com a cultura e a sociedade de seu tempo estudantil e geracional, a configuração de suas rotinas, tempos de estudo/trabalho e deslocamento, prática de esportes e atividades de lazer, desempenho no curso, perspectivas de profissionalização, além da situação ocupacional atual, permeados pela demarcação social de gênero e demais condições elencadas, tais como: situação de encerramento do curso e tempo de permanência na universidade. A partir de tais eixos, conseguimos verificar aspectos no processo de passagem para a vida adulta, tomando como referência: a consolidação profissional na carreira e a conquista de autonomia financeira por parte de alunos concluintes e não concluintes dos cursos de alta evasão da USP, bem como requisições postas para a universidade em sua finalidade institucional de bem qualificar seus estudantes (MEC et al., 1996). Com isso, averiguamos processos distintos em diferentes trajetórias e aspectos da formação realizada na instituição.
Perseguindo a proposição apresentada, foram analisadas as respectivas trajetórias e experiências acadêmicas desenvolvidas pelos jovens-egressos, concluintes e não concluintes, entrevistados por esta investigação. Mediante este objetivo, foram consolidados quatro perfis de trajetos, segundo as respectivas situações de encerramento do curso e tempo de permanência na universidade, assim definidos: 1) Concluintes no tempo ideal e máximo; 2) Evadidos antes de dois anos de permanência; 3) Evadidos após dois anos de permanência com conclusão (dentro ou fora da USP); e 4) Evadidos após dois anos de permanência sem conclusão ou evadidos prolongados sem conclusão. Cada perfil, se configurou como um agrupamento estudantil específico. Isto se deu, em razão das similaridades de experiências e desfecho obtido no curso. Descreveremos as singularidades desses perfis, conforme foram se delineando na pesquisa realizada.
O tipo 1, concluinte no tempo ideal ou máximo, é constituído por um grupo de estudantes que concluiu a graduação na USP, no tempo previsto pelo regulamento. Estes egressos, concluintes no tempo regulamentar, ideal ou máximo, se distinguem mais por área de formação que por aspectos individuais dos estudantes. Frente a isso, parece existir uma compreensão na área de Ciências Humanas de que o aluno precisa de mais tempo para desenvolver certa qualificação no curso e isto vem refletindo nas extensões de prazos para a conclusão da formação superior na USP. Segue abaixo, reflexões que reiteram as observações apontadas:
Para além da questão da área, o concluinte no tempo regulamentar dos cursos de alta evasão predomina entre o público feminino. Tais estudantes possuem pais com renda mediana e baixa8 como também, parcela significativa dos genitores, exercem ocupações no âmbito do trabalho manual. Assim, é verificada a seguinte distribuição de renda, escolaridade e ocupação dos pais dos ex-alunos concluintes nos cursos de alta evasão da USP, que foram entrevistados: 50% dos pais possuem ensino superior completo; 60% observam renda entre 6 e 10 salários mínimos e 40% exercem ocupações no âmbito do trabalho manual.
Com relação à predominância feminina entre os concluintes, observamos que esse público vem assumindo um modelo de responsabilidade social e de formação intelectual mais identificado com o do pai que com o da mãe. Dessa maneira, nos casos analisados, observamos um pequeno diferencial de escolarização dos pais sobre o nível de escolaridade das mães. Verificamos que, o modelo de responsabilidade social e de formação intelectual a que estão mais identificadas é o do pai e que esse espaço da universidade possui um significado singular para a jovem no sentido de estruturação da sua personalidade a partir da construção de um papel social cujos parâmetros são diferentes do destinado à sua mãe. Portanto, constata-se uma tendência à valorização da formação escolar dos filhos e filhas indistintamente e este ritual de passagem é bastante significativo para as mulheres.
Os concluintes percebem bons desempenhos no curso embora, não deixem de criticar o formato das práticas acadêmicas. Acreditam que fizeram para passar, que conseguiram responder aos objetivos propostos. Dentre outras razões, consideram a formação segmentada, sem maior ligação entre as disciplinas e voltada para o aspecto formalista da universidade, com ênfase em seu produtivismo. Assim, é retratado:
Os estudantes concluintes, em sua maioria, optam por não trabalhar. Para tanto, observavam experiências acadêmicas enriquecidas com estágios e bolsas de monitoria e iniciação científica durante a realização da graduação. Associado a este fato, estabeleciam vínculos estreitos com a universidade, na forma de envolvimento em atividades extracurriculares do curso, na dedicação às atividades propostas, na utilização de diferentes espaços institucionais, tais como: laboratórios, centro poliesportivo, biblioteca, festas universitárias, restaurante universitário, museus, cinusp, etc.
Nos casos em que os concluintes exerciam algum tipo de atividade remunerada, os ex-alunos resguardavam condições para o bom desempenho no curso. Assim, apresentavam uma rotina regularizada em termos de horas de sono, atividades de lazer, estudo, deslocamento e trabalho sempre mediados pelo objetivo principal de concluir o curso.
Tais estudantes viveram o momento de realização do curso, de forma menos independente e autônoma em relação à família de origem. Neste sentido, observamos que postergaram nesta fase da vida a passagem para a vida adulta. Segundo explicitado:
Ao término da graduação, essa categoria observa uma posição bem consolidada no mercado de trabalho e percebe uma boa remuneração no mercado de trabalho paulistano para graduados. Os egressos desse agrupamento não pretendem seguir a carreira acadêmica e se veem realizados na profissão que exercem na atualidade.
O tipo 2, evadidos antes dos dois primeiros anos, é constituído por um grupo de estudantes que redirecionou a escolha para outro curso de maior afinidade profissional. Assim, nos casos analisados verificamos situações de ex-alunos que ingressaram na USP em carreiras de menor prestígio, tais como: Biblioteconomia Diurno, Licenciatura em Matemática Diurno e Geofísica e logo no início da graduação, resolveram retomar o cursinho para tentar novo vestibular em carreira de maior compatibilidade pessoal. Nos casos citados, os ex-alunos resolveram cursar engenharia e justificaram para tanto que vislumbravam uma projeção profissional mais consolidada nesta formação que no primeiro curso de ingresso. Abaixo, é reiterado:
Com relação à procedência social, os ex-alunos evadidos antes dos dois anos de permanência são classificados, segundo o Critério Brasil, como sendo de classe média-média e média-baixa. Tais egressos verificam uma alteração na posição de classe devido a divórcios em parcela dos casos ou dificuldades financeiras dos filhos de pais comerciantes, durante o período que antecede o ingresso na USP. Contudo, todos os ex-alunos analisados nesta categoria observam uma boa base escolar. Parte deles, é formada em escolas técnicas federais, tais como: no Instituto Federal de São Paulo (IFSP) e no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET) e outro segmento, escolarizou-se em escola particular em região privilegiada da cidade de São Paulo. Os pais possuem escolarização de nível médio e superior, tendo ocupações tanto em âmbito manual quanto em nível especializado.
Estes ex-alunos tinham expectativas mais altas que as demais categorias analisadas. Desse modo, com relação as projeções e perspectivas de formação na USP almejavam as melhores oportunidades acadêmicas e para tanto se dedicavam integralmente aos cursos com bolsas de pesquisa e atividades compatíveis com esta finalidade. Frente a isso, constata-se que usufruíam de toda a estrutura institucional de forma a ter algum controle sobre seus trajetos de formação bem como, não se percebiam críticos ou reflexivos desta estrutura mas, reconhecidos e valorizados por ela em sua forma de legitimar oportunidades. Assim, pode ser averiguado:
Estes egressos observam as melhores posições em termos de prestígio, remuneração e projeções profissionais presente e futuras. Almejam tornarem-se professores-pesquisadores em universidades públicas brasileiras. Para tanto, dentre os três egressos analisados, dois trabalham com pesquisa em nível de pós-graduação e seguiram a carreira acadêmica e um terceiro trabalha com desenvolvimento de projetos de tecnologia computacional, em uma empresa multinacional.
O tipo 3, evadidos após dois anos de permanência com conclusão, é constituído por um grupo de estudantes comumente caracterizado como sendo um estudante-trabalhador quando não se configura como um trabalhador-estudante,9 tal é o caso de um entre os cinco representantes da categoria aqui analisada. Este tipo de estudante frequentemente opta pelo curso noturno ou desloca-se para este turno, a fim de compatibilizar o cumprimento de suas atividades de estudo e trabalho.
A procedência social destes ex-alunos é diversa e afetada por intercorrências geográficas. Assim, filhos de pais com ensino superior completo, estudaram em outros estados e mudaram para São Paulo no momento de ingresso na USP. Os demais estudantes são residentes em São Paulo ou oriundos da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).
A procedência escolar também é diversa. Alguns estudaram em escolas particulares e outros em escolas públicas de melhor qualidade, sendo dois provenientes de escola técnica, um de escola pública, um de colégio militar e escola particular e um, de escola particular no centro de São Paulo.
A experiência universitária destes ex-alunos se define mais pela eventualidade que estabeleciam com o estudo que pela priorização deste aspecto na vida do jovem. Assim, é aclarado:
Quase todos começaram a trabalhar após o ingresso no ensino superior para se auto-sustentarem e/ou para ajudarem nas despesas da casa da família de origem e relegaram o curso a um segundo plano, conforme explicitado:
Tais egressos observavam relações conflituosas com as demandas universitárias e não mantinham vínculos com a instituição para além das atividades obrigatórias de frequência às aulas. Verificavam baixos desempenhos de notas e iam postergando o cumprimento dos créditos em razão da dificuldade em organizar as demandas da vida laboral e o estudo. Segue depoimentos relativos a estas questões:
Este perfil de estudante acaba postergando a finalização do curso e muitas vezes, conclui a formação superior com pedidos de retorno ao curso ou em outra instituição de ensino superior. Nos casos em que a conclusão ocorre fora da USP, os compromissos assumidos com a família de origem ou com um estilo de vida mais independente são mais intensos. Assim, é observado:
Tais egressos a despeito de terem entrado no mercado de trabalho durante o curso de graduação não observam uma consolidação profissional —como as demais categorias de concluintes e evadidos antes dos 2 primeiros anos. Atuam fora da área de formação, com baixa remuneração e sem perspectiva de progressão na carreira. Segue menções a este respeito:
Essa categoria de tipo 3 experiencia um incremento em suas responsabilidades após o ingresso na universidade e, embora necessitassem trabalhar, não recorreram a referências universitárias ou à assistência estudantil para uma melhor adequação de suas necessidades às demandas do curso e às perspectivas da formação. Constata-se nas trajetórias analisadas que a busca desinformada do mercado de trabalho durante a graduacão implicou em danos, no que concerne a conquista de uma posição futura mais consolidada e estável profissionalmente. Situações dessa natureza, recorrentemente delineadas nos estudos que abordam o momento de passagem para a vida adulta (Pimenta, 2007), continuam a requerer atenção específica das políticas públicas sobretudo, para propiciar a efetiva inserção de jovens no mercado de trabalho.
O tipo 4, evadidos após dois anos de permanência sem conclusão ou evadidos prolongados sem conclusão, é constituído por um grupo de ex-alunos que perdeu o interesse pela graduação cursada, após longo período de permanência e não realizaram outra formação de ensino superior. A certa altura da graduação, após considerarem que não levaram tão a sério o curso, assumem que não desejavam exercer a docência. Reiteram para tanto que não vislumbravam perspectivas profissionais na graduação realizada e não viam sentido na conclusão do curso. Assim, é iterado:
Tais ex-alunos observam procedências sociais mais favorecidas que as demais categorias analisadas. Excetuando, uma egressa cuja família de origem é definida como sendo de classe baixa, os demais estudantes desta categoria são classificados como sendo de classe média-média e média-alta e observavam auxílios dos pais para se manterem na USP. Todos são oriundos de São Paulo ou da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e após o ingresso, três destes ex-alunos que moravam na RMSP e uma egressa que morava no bairro Jardim Moraes Prado mudaram para próximo à USP para realizarem a graduação. Destaca-se que trabalhavam eventualmente para arcarem com suas despesas individuais e condição de vida jovem. Conforme, observado:
Tais ex-alunos foram substituindo a dedicação e interesse pelo curso por atividades que tinham pouca vinculação e paralelas à universidade. Tinham disponibilidade de tempo para se dedicarem aos estudos, irem ao centro poliesportivo da USP, se envolverem em atividades acadêmicas mas, voltaram-se para atividades e grupos externos à instituição. Assim, é destacado:
Na atualidade, estão trilhando caminhos profissionais sem diploma de nível superior. Parte deles, ainda pretende concluir a formação superior. Outra parte, vislumbra se aperfeiçoar no campo em que atuam hoje no mercado de trabalho. Assim, é retratado:
Essa categoria não se vê convencida da relevância da formação superior e das possibilidades que a aquisição do diploma pode oferecer. Tais estudantes parecem não confiar em si mesmos como também, a universidade não os despertaram para tanto. Assim, preferem não se formar no ensino superior que terminar uma formação que não desejam. Talvez essa categoria seja o grupo que mais demandaria suporte da instituição, com estreitamento de vínculos e atividades que pudessem auxiliá-los a motivarem-se e reconhecerem-se institucionalmente.
Nas análises dos quatro tipos-ideais ou perfis de estudantes, verificamos situações coletivas diversas. Assim, observamos casos de ex-alunos que, a despeito de um conjunto de adversidades materiais, educacionais e simbólicas, descobriram trajetos de sobrevivência, informações e apoios mútuos que possibilitaram a construção de trajetórias exitosas na USP e bem consolidadas no mercado de trabalho paulistano atual, imediatamente após o término da graduação. Outros casos de estudantes que buscaram a carreira acadêmica, desbravando e se inserindo nesse nicho dentro da instituição, como forma de se manter e obter um melhor rendimento e aproveitamento do curso. Casos de estudantes que enveredaram pelo campo do trabalho para auxiliar no sustento da família de origem e não conseguiram finalizar a formação no tempo regulamentar, e outros que perderam o interesse em concluir a formação de ingresso e não efetuaram outro curso de ensino superior.
Em todas estas situações, apreendemos uma ação do indivíduo sobre o seu próprio percurso. Nesse aspecto, reiteramos o entendimento da juventude quando considera que esse momento da vida constitui um período no qual conteúdos e práticas assimiladas no âmbito familiar são confrontados com novas experiências, que podem ser vivenciadas tanto em um plano microssocial (relações interpessoais de amizade, relacionamentos afetivos, vínculos associativos e religiosos) como também pelos desafios macrossociais, materializados em determinadas conjunturas políticas, econômicas e sociais nas quais os jovens estão inseridos(Tomizaki, 2017). Desse modo, percebemos que diferentes trajetos constituem formas de os indivíduos se forjarem e serem estruturalmente produzidos em uma sociedade (Martuccelli, 2007). Dentre outros aspectos, esses indivíduos interagem e atuam em um espaço de possibilidades múltiplas em que são convocados a se afirmarem e a sobressaírem.
Nessa perspectiva de afirmação de si e de ação do indivíduo sobre o seu próprio percurso, considerar que o trabalho simplesmente impossibilita a formação superior na USP não é procedente. Existem outras variáveis ou condicionalidades nessa tramitação que inviabilizam, senão postergam essa conquista. Desse modo, relações interpessoais, redes de sociabilidades e tipos de vínculos estabelecidos dentro e fora da universidade interferem em diferentes desfechos para a conclusão do curso. Nesse ínterim, existe uma busca do indivíduo por questões pessoais que são importantes para ele, pelo menos em um determinado momento da trajetória de vida de cada ex-aluno, e, nessa busca, nem sempre a USP ocupa posição preponderante. Nessa ocasião, outras dimensões ou esferas da vida ganham relevância, e o baixo envolvimento com o curso repercute na não-conclusão da graduação de ingresso. Diante disso, consideramos que o trabalho dificulta a conclusão, mas não é fator único que incide sobre a desistência pelo menos temporária do ensino superior na USP, conforme retratado nos casos de evasão de Tipo 3. Constatamos, portanto que, questões subjacentes a esse âmbito, tanto do ponto de vista institucional quanto do estudante, impossibilitam tal êxito.
Por outro lado, a perda de interesse pela graduação cursada implica em uma avaliação que o indivíduo faz acerca de suas perspectivas futuras que, muitas vezes, extrapolam aspectos pertinentes à formação de maneira estrita. Muito frequentemente, os cursos de mais alta evasão são voltados para a formação geral e não para formações profissionalizantes. Tal condição tem uma implicação sobre as expectativas de direcionamento da graduação realizada, que é diferente de uma formação aplicada.
Assim, muitas vezes, o curso voltado para um conteúdo mais genérico, que se define por uma área do conhecimento, exige uma busca e uma descoberta individual do aluno, senão o aporte de diferentes tipos de capitais econômico, social e cultural para inserção no mercado de trabalho. Nos casos aqui analisados, o grupo mencionado nessa apreciação, ou seja, o grupo de Tipo 4, não observa condições socioeconômicas e culturais desfavorecidas em relação às demais categorias elencadas, sobretudo considerando a categoria de concluintes (Grupo de Tipo 1). Contudo, o aluno dessa categoria não conseguiu se inserir diante das perspectivas de formação oferecidas e frente a isso, decidiu por não concluir o curso.
Por sua vez, existe ainda uma hierarquia das carreiras no mercado de trabalho, e quem consegue um certo respaldo e deseja percorrer um caminho mais valorizado profissionalmente, muitas vezes, o faz sem arrependimento da formação que abdicou, em alguma circunstância da trajetória pessoal de escolarização. Dessa maneira, temos o tipo de evasão, que se caracteriza por aqueles que evadem, porque reorientaram a escolha para carreiras de maior afinidade profissional-evasão de Tipo 2.
Ressaltamos em todas essas intercorrências da evasão que, o desfecho obtido não pressupõe que a USP não apresente debilidades ou fraquezas que dificultam uma resolução mais harmoniosa dos limites e barreiras institucionais. Realmente, são enfatizadas dificuldades diversas, como falta de modernização das práticas pedagógicas, hierarquia das carreiras, alguns entraves para a inserção de grupos diversos em diferentes espaços da universidade, além da perda de sentido e finalidade das proposições acadêmicas advindas de uma visão distorcida de produção do saber. Contudo, existe um entremeio de negociação, um espaço de intervenção do indivíduo sobre o contexto ou meio que também integra. Portanto, a universidade não é totalmente fechada e rígida ao ponto de não incorporar às diversas variâncias e ajustes à sua formatação.
Dessa forma, observamos casos de alunos com condições adversas, como os concluintes de Tipo 1, que se sobressaíram no curso e estão bem posicionados no mercado de trabalho atual, sem tanto apoio, ou experienciando as mesmas dificuldades institucionais que os demais estudantes analisados. Portanto, muito frequentemente, constatamos que, eram enunciadas possibilidades para as quais se direcionaram diferentes indivíduos, e cada um se deslocou para um ponto que lhe pareceu mais conveniente no instante de ação.
Verificamos que tais direcionamentos repercutiram em desdobramentos mais ou menos exitosos conforme o percurso realizado no curso. Assim, aferimos que todos os estudantes que concluem observam ascensão do meio social de origem, percebem ganhos não somente do ponto de vista material, mas de aquisição do saber e solidez pessoal, conquistadas com disciplina e dedicação ao curso, a despeito dos problemas da USP.
Frente ao exposto, reitera-se que a contribuição deste trabalho se encaixa exatamente no ponto em que esta permite afastar-se das generalizações, que tratam numérica e quantitativamente as evasões como um fenômeno, senão único, pelo menos com uma abordagem mais geral (MEC et al., 1996). Assim, a pesquisa apontou para a existência de peculiaridades nos comportamentos que provocam a evasão, sem, contudo, cair em especificidades individualistas.
Considerando-se o agrupamento das trajetórias, a aproximação de alguns casos que permitiu classificá-los em, pelo menos, quatro categorias nos permitem entender que há idiossincrasias que afetam os grupos sociais, os cursos, bem como a escolha individual das pessoas. De tal forma que, se os comportamentos apresentam individualizações, que os separam dos outros, eles também podem ser compilados em categorias, conforme retratado.
Outra questão que a pesquisa permitiu elucidar relacionou-se ao fato de os fatores econômicos não se mostrarem suficientemente estruturantes a ponto de neutralizar a capacidade que alguns estudantes demonstraram em organizar e gerir suas trajetórias de vida. Diante disso, a pesquisa pode apontar rumos para as medidas de políticas públicas quando evidencia esse aspecto dos resultados obtidos. Assim questões atinentes as necessidades pessoais dos estudantes se destacaram.
Finalmente, considerando que a evasão e o abandono dos cursos alcançam índices altos, chegando à casa de 30% como no caso da USP (Oliveira e Souza, 2004), pode-se afirmar que: qualquer medida que procure enfrentar os índices da evasão deve ser tomada em consonância com as especificidades de grupos definidos. Defendemos, assim, em face daquilo que se considera como contribuição desta pesquisa, que as medidas tomadas, em geral, com vistas a diminuir os índices da evasão, resultariam em esforço inócuo, se não forem devidamente consideradas as necessidades específicas dos indivíduos e grupos discriminados.
A título de sugestão para o enfrentamento administrativo das questões apontadas- elencamos a necessidade de: 1) Instalar, ampliar ou tornar mais eficientes os serviços de orientação ao estudante abrangendo aspectos pessoais, didático-científicos, culturais e profissionais; 2) Estimular a formação de maior número de núcleos de pesquisa e projetos integrados na universidade; 3) Valorizar a carreira docente na universidade; 4) Dar maior atenção ao mercado profissional para os estudantes; 5) Ampliar alternativas de inserção no mercado de trabalho aos formados. Acreditamos que com essas medidas, poderemos vislumbrar a consolidação de espaços acadêmicos mais democráticos e fortalecidos, mediante o afloramento de uma universidade menos fragmentada.
*Ana-Amélia Chaves-Teixeira-Adachi
Brasileira. Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, Brasil. Professora Formadora na Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu do Núcleo de Educação à Distância da Universidade Federal de São João del Rei (UFSJ). Temas de investigación: evasão, ensino superior, políticas de assistência estudantil, perfil de estudantes, trajetórias acadêmicas e juvenis, processos de individuação. ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1869-3143. anaameliact@gmail.com Regresar
1. Tais variáveis foram compiladas a partir da consulta a documentos diversos do sistema de cadastramento da USP. Os documentos averiguados consistiram em: Listas de Ingressantes, resumo escolar, histórico escolar, dados do programa e dados do aluno. Os documentos analisados permitem acompanhar a trajetória escolar do estudante na universidade. Regresar
2. Essa investigação se define por ser um estudo de caso (Yin, 2001), devido a complexidade em generalizar os resultados obtidos para o conjunto das instituições de ensino superior brasileiras (IESB). Regresar
3. Segundo Weber, tipos-ideais consistem em construções que nos permitem ver se, em traços particulares ou em seu caráter total, os fenômenos se aproximam de uma de nossas construções. A partir dessa elaboração é possível deteminar o grau de aproximação do fenômeno histórico e o tipo construído teoricamente. Sob esse aspecto, a construção é simplesmente um recurso técnico que facilita uma disposição e terminologia lúcidas. (Weber, 1982: 372). Regresar
4. Juventude é a categoria social que compreende indivíduos na faixa etária de 15 a 29 anos, que comumente é entendida como fase de transição entre a adolescência e a fase adulta. (Conjuve, 2006). Regresar
5. Estipula-se segundo meta 12 do Plano Nacional de Educação (PNE)/Brasil que, a taxa bruta de matrículas na Educação Superior seja elevada até 2024 para, no mínimo, 50% do grupo populacional de 18 a 24 anos de idade. Os dados revelam que a partir de 2004 houve um crescimento continuado na taxa bruta de matrículas na Educação Superior. De 2009 a 2015 houve um aumento de 6,5 pontos percentuais, atingindo 34,6% de matrículas na Educação Superior, o que pode ser considerado um ritmo insuficiente para o cumprimento da meta em 2024. (Brasil, Lei 13 005, 25 de junho de 2014. Regresar
6. Condição de vida jovem ou condição juvenil pode ser definida como sendo o modo como uma sociedade atribui significado a um determinado momento do ciclo de vida, referenciando essa fase a uma dimensão geracional e à situação dos jovens, segundo seus recortes etários, de gênero, classe, raça, gostos, estilos de vida, etc. (Abramo, 1997). Regresar
7. Para garantir o anonimato dos depoentes, os nomes dos entrevistados apresentados são fictícios. Regresar
8. Renda tomada segundo o Critério de Classificação Econômica Brasil (ABEP, 2018) que consiste em um indicador definidor de agrupamentos de classes a partir do poder de consumo da população. Tal critério leva em consideração os seguintes quesitos: posse de bens duráveis, condições de moradia, uso de serviços e grau de instrução do chefe da casa. Apesar de ser um indicador macro, constitui um parâmetro para referenciarmos as análises qualitativas com base em um critério global. Regresar
9. A literatura pertinente ao tema (Foracchi, 1968) estabelece uma distinção entre o estudante-trabalhador e o trabalhador-estudante. Desse modo, verifica, no caso do estudante-trabalhador, que o trabalho e o estudo podem ser conjugados porque tanto existe o trabalho em tempo parcial quanto os cursos noturnos. O jovem que se desdobra entre essas duas atividades, igualmente solicitadoras e absorventes, apresenta, portanto, algumas características peculiares. Para estes, o trabalho parcial: acentua o divórcio entre interesses e necessidade, sem concentrar-se neste ou naquele setor, se dilui entre estudo e trabalho, convertendo-os em atividades precárias e insatisfatórias. Contudo, nesse caso, o trabalho é o setor mais atingido por ser, na perspectiva do estudante, um trabalho incompleto e parcial. O estudante que trabalha vive a fragmentação do estudante: não estamos mais em presença de um mero intervalo que possibilita, como numa fuga, a realização de determinada atividade. Estamos diante de um intervalo amplo que marca, porque separa em tempos sociais distintos, o trabalho e o estudo para o estudante-trabalhador. Por sua vez, a situação do trabalhador-estudante é distinta, pois a acomodação entre estudo e trabalho raramente redunda numa integração harmônica das duas atividades. Com frequência, impõe-se uma cisão, com caráter de opção, pois as qualidades do estudo e do trabalho não têm uma medida comum de avaliação (Foracchi, 1968:51). Regresar
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